Associação Paulista de Conservadores Restauradores de Bens Culturais

Palestra Dra. Vera Cecília Gelardi

SAÚDE AUDITIVA DOS RESTAURADORES E CONSERVADORES: UMA QUESTÃO QUÍMICA.

Uma infinidade de produtos químicos é lançada e utilizada a cada ano nos processos produtivos sejam eles organizacionais ou artesanais; e a velocidade com que essas substâncias são introduzidas no mercado de trabalho não é acompanhada pelo conhecimento de sua toxicidade.

Em média 750.00 mil substâncias químicas são conhecidas e dessas só a conhecimento dos riscos e efeitos para a saúde para cerca de 7.000, portanto, esses agentes de risco adquirem importância crucial para sua avaliação e proposta de ações de enfrentamento aos danos que possa vir a causar a população exposta a eles em suas atividades laborais.

A inserção de um produto químico industrial na categoria de alta prioridade para estudos leva em consideração primeiramente o número de trabalhadores expostos ocupacionalmente a ele e a evidência da sua toxicidade geral, ou seja, sua nefro e neurotoxicidade.

Sabemos que a exposição a produtos químicos pode causar problemas tão ou mais sérios que a perda da audição, porém, há várias evidências que as alterações auditivas podem ser a primeira manifestação da intoxicação a esses produtos. Outro fator importante é que diferentemente do Ruído o risco mais conhecido e controlado em ambientes de trabalho em relação à saúde auditiva que uma vez cessada a exposição cessa a progressão da perda auditiva o mesmo não ocorre após o término da exposição aos agentes químicos devido à ação residual.

Substâncias ototoxicas

As substâncias químicas que venham afetar o sistema de audição e/ ou equilíbrio humano são denominadas como ototoxicos.

Propriedades ototoxicas somente foram investigadas para um número muito reduzido de químicos industriais. Da literatura se conclui que existem 3 grupos principais de químicos considerados como alta prioridade nas pesquisas de ototoxicidade ocupacional: solventes, gases asfixiantes e metais. Mais recentemente, foram incluídos neste grupo os pesticidas Organofosfarados.

Instituições como o NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health), ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) recomendam, desde 1998, que a audição dos trabalhadores expostos a certos produtos químicos seja monitorada. Mais recentemente (2003) o Parlamento Europeu também recomendou que os Programas de Prevenção de Perda Auditiva incluam o monitoramento dos trabalhadores expostos a riscos químicos.

Nas atividades dos profissionais dos restauradores e conservadores a exposição a químicos como os metais pesados e os compostos orgânicos utilizados como solventes como hidrocarbonetos alifáticos; álcoois; éteres; ésteres; amidas, aminas; aldeídos; cetonas e complexo de misturas estão presentes em todas as áreas de atuação desses profissionais e são os solventes orgânicos os agentes ototoxicos mais estudados; em especial o tolueno, xileno, dissulfeto de carbono e tricloroetileno.

Dos cinco sentidos humanos é a audição o único que está completo e em funcionamento ainda na fase embrionária e através da audição adquirimos o sistema que faz o ser humano se diferir dos outros animais: a linguagem.

Apesar de toda essa importância é o sentido mais negligenciado pelo homem. Por quê?

As pessoas não têm noção do impacto de uma perda auditiva na sua qualidade de vida.

Reconhecer, avaliar e controlar os riscos à saúde auditiva no ambiente do trabalho é uma necessidade para que possamos manter esse dom: ouvir.

Vera Cecília Gelardi Graduada em Fonoaudiologia/UNIFESP; Especialista em Audiologia/CFFA; Pós-Graduação em Audiologia/UNIFESP; Pós-Graduação em Promoção da Saúde/HCFMUSP; Professora do Curso de Pós-Graduação em EST/UNIP; Professora/Coordenadora de Saúde do Trabalhador/IEAA; Membro da Comissão de Estudos Especiais de Segurança e Saúde Ocupacional da ABNT – Comitê Técnico ABNT/CEE-109; Parecerista do CRFa -2º Região em Fonoaudiologia e Saúde do Trabalho;19 anos de atuação em Saúde do Trabalhador;Assistente Técnico Judicial em Perícias Cíveis.